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Sombra e Persona mostram sua face tecnológica

 

Mesmo que os valores mais primitivos de superioridade como a força física já estejam superados, afinal, na era tecnológica quase tudo esta ao alcance na ponta dos dedos, bastando um toque suave na tela digital, preconceitos ainda estão arraigados na cultura , as minorias continuam a existir e a mulher continua sendo considerada um ser de segunda ou terceira categoria em muitos países. 

 

Porém, outros valores  antigos estão mais do que nunca valorizados, como o poder, a beleza, a auto-estima e a autoconfiança, sejam estas naturais ou produzidas no enriquecimento ilícito ou nas salas de cirurgia plástica, na construção de uma Persona pessoal e social capaz de nos proporcionar um lugar no mundo, nem que seja apenas através  do fotoshop, afinal, ser perfeito no mundo virtual muitas vezes já basta, e os relacionamentos pessoais passam a ficar ofuscados e ,consequentemente, menos interessantes que aqueles mostrados nas brilhantes telas de computadores, tablets e smartphones. 

 

Facebook é um dos maiores fenômenos culturais de todos os tempos, a facilidade da câmera integrada ao smartphone fez com que nunca se produzissem tantas fotografias, dentre as quais os famosos “selfies”, que invadiram até mesmo a festa do Oscar. A foto digital e o facebook são o novo espelho de Narciso, mas também podem ser o novo espelho da Medusa, afinal quando se tenta mostrar a todos o próprio sucesso, beleza, inteligência e cultura, estamos da mesma maneira expondo nossa própria Sombra , complexos e feridas, sendo o facebook um grande fornecedor de material analítico para quem estiver disposto a usá-lo como tal ferramenta.

 

A necessidade de ser visto e reconhecido, e consequentemente amado , é a necessidade psicológica mais primitiva que experimentamos, um bebê recém nascido não sobrevive sem o olhar da mãe ou da pessoa que cuida dele. E nós continuamos a buscar esse olhar por toda a vida, seja em relacionamentos saudáveis, seja na exposição excessiva e desnecessária causada por nossos traumas e complexos, vaidade e necessidade de aceitação. A internet e os sites de relacionamento, são, sem dúvida , uma forma de inclusão social, tratada muitas vezes de forma unilateral quando comparada apenas ao mito de Narciso, creio que o fenômeno é mais intenso, extenso e profundo, e que o narcisismo seria apenas uma das abordagens possíveis.

 

O olhar do outro é a forma mais primitiva de relacionamento social,através do olhar da mãe o bebê se reconhece como ser , se sente amado ou rejeitado e a qualidade e quantidade do amor recebido é percebido pelo outro através do olhar , constituindo fator determinante para a estruturação da personalidade futura. Através do ver e ser visto, da maneira como os olhares se encontram, se expressam e são decodificados ,estabelecem a possibilidade de uma aproximação ou de recuo , de interação criativa ou da constelação de complexos e defesas psicológicas. 

 

O olhar do outro continua a ser um fator estruturante da personalidade ao longo da vida, geralmente é a primeira forma de contato pessoal, várias formas de avaliação e julgamento , projeções positivas ou negativas estabelecem-se rápidamente e olhar o outro de maneira isenta de avaliação tem sido um dos maiores desafios na construção do saber psicológico . Nesse  sentido, as redes sociais exercem o mesmo papel, aceitamos, rejeitamos e julgamos o outro pelo que é mostrado nas redes sociais,mesmo achando que somos capazes de mostrar apenas nosso melhor lado, as características que julgamos capazes de nos tornar amados, a Sombra está sempre presente, quanto mais se constrói a Persona tecnológica, mais material fornecemos para que vejam nossa Sombra. Persona e Sombra  também tem uma face tecnológica!

 

(Este texto é um excerto de um trabalho a ser divulgado)

 

Solange Bertolotto Schneider

 

(Todos os direitos reservados)

Medusa se olhando no espelho
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