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In between: entre a dor e a delícia de ser e deixar de ser expatriado

O sentimento de pertencer a um lugar, família, grupo ou nacionalidade faz parte da identidade de cada um. Nós nos definimos e nos apresentamos ao mundo relatando nosso nome, origens familiares e culturais, e rapidamente pode-se fazer uma ideia de quem e como somos. Será?

 

O equilíbrio humano não é estático, é mutante. Por mais que nos apeguemos à segurança do conhecido mundo à nossa volta, a verdade é que a humanidade sempre migrou. Migramos porque queremos ou porque a vida assim quis. Migramos por causa das guerras, dos sistemas políticos, da profissão, da família, dos amores, mas também pelo espírito de aventura e pela busca do novo, do desconhecido e do misterioso.

 

A escolha ou situação de se mudar de cidade, país, idioma e cultura nem sempre é fácil, nem sempre é realista. A adaptação é trabalhosa, desafiadora. Temos que sair de nossa zona de conforto, abrir mão de preconceitos e até desaprender alguns hábitos - ou mesmo desapegar-nos deles - que não são mais pertinentes à nova situação em que vivemos.

 

Um simples cumprimento inadequado pode nos colocar em situação desagradável. O não conhecimento de algumas regras sociais pode nos deixar extremamente embaraçados. Expressar-se em outra língua requer mais do que aprender o vocabulário, conjugar verbos e escolher preposições corretamente. Implica aprender a pensar de outra maneira.

 

Adaptar-se aos hábitos alimentares de outra cultura pode ser fascinante durante as férias, mas nem sempre é tão fácil quando temos que fazer isso todos os dias por meses a fio, até chegarem as próximas férias em nossa terra natal.

 

Os últimos dez anos de minha vida tenho passado entre a Alemanha, Suíça (tanto no lado "francês" quanto no "suíço-alemão") , Inglaterra e Holanda. Convivi com pessoas de tantas nacionalidades que nem poderia enumerar, mas, nos encontros sociais, os temas das conversas eram universais: onde encontrar tal comida ou bebida, como ajudar os filhos a se adaptarem às novas escolas, como se integrar, quais regras de comportamento "não dito" nos passou desapercebido. 

 

Muitos se fascinam e negam suas próprias origens. Outros só pensam em voltar e se arrependem de ter partido. Estas atitudes extremas e unilaterais tendem a mudar com o tempo. Afinal, diante do novo, precisamos nos apoiar em certezas: ou a de que erramos ao nos mudar, ou a de que erramos em ter demorado tanto a fazê-lo!

 

A primeira fase da adaptação é a da defesa ou da entrega radicais à nova cultura. Ambas são naturais num primeiro momento, mas a busca pelo equilíbrio torna-se necessária. Quando se enfrenta uma mudança dessas, nada é perfeito e lindo o tempo todo, assim como nada é totalmente horrível também.

 

Assisti a tantas pessoas que moraram anos em um país pensando apenas em voltar e, quando voltaram, o "paraíso perdido" não era tão paradisíaco assim... Outras negaram as próprias origens, tornando-se caricaturas do país que adotaram como lar, negando a próprias origens. Algumas pessoas estão sempre infelizes, não importa o que a vida lhes proporcione. Outras se adaptam e aprendem a apreciar o que a nova vida lhes dá. Será que a responsabilidade é apenas das circunstâncias? Claro que não!

 

Todos nós temos a capacidade de mudar e de nos adaptar, em maior ou menor grau. No entanto, adaptação implica estar abertos à mudança. Nós é que teremos que nos adaptar, não o meio ou a cultura que nos recebe. Precisamos estar abertos à troca, oferecendo ao outro a oportunidade de nos conhecer, mas também nos abrindo para conhecer o outro sem preconceito, com curiosidade e interesse. Fácil? De jeito nenhum! Dificílimo! Mas também pode ser facílimo!

 

Encontrei amigos em culturas e nacionalidades diversas, pessoas com histórias de vida tão diferentes da minha e que se tornaram tão próximas, tão queridas, amigos do coração. Nós nos transformamos e crescemos com a experiência.

 

A verdade é que, após esta experiência, não seremos mais os mesmos, seremos seres "in between" , seres que vivem e circulam entre diferentes culturas, e que ao mesmo tempo estão confortáveis e "estranhos" em cada lugar. Depois de algumas mudanças, pode-se ter a impressão que poderíamos morar em qualquer país, e conheço muitas pessoas que de fato o fazem, construindo uma rede de relacionamentos superinteressante. Também há aqueles que não se fixam em lugar algum, ficando totalmente soltos ao vento, sem criar vínculos.

 

Encontrar o equilíbrio é um grande desafio, mas manter o olhar curioso perante a vida, lugares, pessoas e culturas é de grande ajuda. Quanto menos conhecemos e aceitamos a nós mesmos, mais difícil conhecer e aceitar o outro. Lidar com o desafio da mudança requer maturidade e equilíbrio. Se ainda não temos essas qualidades, esta é uma grande oportunidade de aprendizado.

 

Solange Bertolotto Schneider

 

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