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Para que serve a psicoterapia e para quem é indicada?

Atualizado: 13 de mai. de 2020


Desde a época em que eu era uma jovem estudante de psicologia, venho me deparando com esta questão, formulada das mais variadas maneiras, em situações nem sempre oportunas, com diversos tons emocionais: desde a mais pura curiosidade até a mais ferrenha ironia e agressividade.

Quando fui conselheira do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP - 6ª Região), órgão que orienta, fiscaliza e cuida da regulamentação e da ética da psicologia enquanto profissão, participei de um projeto que visava "popularizar" a psicologia. O evento se chamava "Psiquê - Quatro Abordagens em Psicoterapia".

Respeitados profissionais foram convidados a explicar à população "leiga" o que era psicoterapia. Este ciclo de palestras foi um grande sucesso de público, recebendo centenas de pessoas, e deu origem a um livro de mesmo nome. O Centro Cultural São Paulo abriu suas portas para o CRP realizar este projeto, na época bastante arrojado (estou me referindo a 1990/1991), possibilitando que fosse gratuito e livre para quem se interessasse.

Desde então, todos os dias me deparo com reportagens a respeito da necessidade ou não de se buscar ajudapsicológica nas mais variadas revistas, jornais e mídias eletrônicas. Nunca foi tão fácil encontrar informação de qualidade, mas, mesmo assim, a pergunta parece não querer calar. Afinal, para que e para quem serve a psicoterapia? Minha resposta é: para quem quiser!

Não importa o grau de sofrimento ou angústia, se está indeciso ou deprimido, ansioso ou apático. Se sua vida não o satisfaz por algum motivo, se você quer ser mais criativo, se acha que a vida dos outros é mais interessante que a sua ou não... Não importa o motivo, a psicoterapia vai ajudá-lo a ampliar sua visão de mundo e de você mesmo.

Imagine que sua casa tem algumas janelas e você olha o mundo através delas, mas sua casa também tem paredes, que o protegem do mundo lá fora, da variação do tempo e da temperatura, mas também o isola de possíveis paisagens. Imagine que sua visão de mundo é assim: você vê o mundo por estas janelas com as quais está habituado, tudo parece ter sempre a mesma perspectiva.

Agora imagine se você mudasse algumas janelas e paredes de lugar, que tal? Assim é o processo psicoterápico, uma ampliação da visão de mundo e de nós mesmos, um reconhecimento do que pode ou não pode ser mudado. Afinal, não se pode abrir janelas em todas as paredes de uma casa, temos que respeitar sua estrutura, mas podemos circular por fora da casa, caminhar pelos jardins e calçadas, buscar não apenas a visão de cada detalhe, mas também a visão do todo.

Nossa mente é semelhante a uma casa. Precisamos cuidar de cada detalhe interno, mas também precisamos cuidar da estrutura de sustentação, das colunas, e ao mesmo tempo ter uma visão do todo, de quais são os seus pontos fortes e fracos, e do que precisa de manutenção e reforma. A estrutura aguenta?

De qualquer maneira, sempre é possível se sentir mais confortável consigo mesmo, com os outros, fazer escolhas mais conscientes, avaliar o maior número de opções e detalhes das circunstâncias ou mesmo encarar que algumas decisões foram emergenciais ou circunstanciais, e que devemos seguir adiante e tentar tirar proveito das situações que a vida nos ofereceu, assim como tentar entender e separar o que era possível e evitar o que era evitável.

Nem sempre podemos escolher nosso destino, mas podemos escolher como vamos lidar com ele. Se não podemos, se somos vítimas do destino ou de outras pessoas, talvez a reforma precise ser urgente. Freud dizia que se minha ação não está de acordo com minha vontade, isto é sinal de neurose. Jung dizia que até o inconsciente se tornar consciente, ele vai dirigir sua vida, e você vai chamá-lo de destino.

Agora sou eu que pergunto: quem dirige sua vida e faz suas escolhas? Você se deixa guiar por mágoas, frustrações, ansiedades, desvalorização ou hipervalorização de si próprio, das situações ou dos outros? Ou você considera seu ser inteiro, capaz de harmonizar a visão de mundo com a visão de si mesmo na hora de decidir seu próprio caminho?

Tenho apenas uma advertência a fazer: após iniciado o processo psicoterápico, não tem mais volta. Uma vez que se aprende a olhar a vida ampliando as perspectivas, nunca mais ficaremos satisfeitos com a visão de mundo proporcionada por uma simples janelinha!

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